terça-feira, 5 de julho de 2011

A bela da sanga

Hoje, a sanga beijou os pés do meu amor
E ela sorriu como a flor do campo
Como se eu não estivesse ali mirando

Hoje, naquela sanga correu águas
Que os olhos da minha amada fitaram
E os meus, escondidos,
Apenas amaram

Amaram a sanga que corre
Que sem pedir beija seus pés

Amei também os olhos da linda
Que distraída olha a sanga
Que vai e não volta

Lembrei das minhas voltas
E de esporadas perdidas
Para ver aquela que habita
Na beira da sanga mágica
Que beija seus pés e vai embora

Vi a prenda faceira
Que olha as águas touceiras
Que se vão correndo
Como um dia fui
E jamais voltei
Sem ser para ver a linda da sanga

E os seus olhos brilhavam
E os meus sonhos rolavam
Pra que depois d sanga
Seus pés encontrassem minha direção

A sanga só quer correr e encontrar aquele rio
Eu quero que seus pés beijados pelas águas sem fio
Venham até mim
Aquecer aquele frio
Que as andanças da vida me fez sentir

E longe da prenda da sanga
Vi o sonho morrer e voltar
Vi  a vida ressuscitar
E morrer junto do leito pequeno
Junto daqueles pés beijados
Junto com o sonho do andejo

Eu mirava a sanga correndo
E me vinha a vontade sem fim
De ter sempre junto à mim
A prenda dos pés beijados
E na ilusão fui morrendo
E meu baio sofrendo
Castigado da poeira da estrada
Que apertei na saudade e na falta
Para ver a prenda da sanga

E da ilusão acordei
Quando da sanga lembrei
E me vi num estradeiro empoeirado
Sonhando com os doces lábios
Daquela linda dos pés molhados.

                                               Nepomuceno Alves
                        Lavras do Sul, 05-julho-2011

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