sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Sou Rio Grande, sou gaúcho, sou a estampa farroupilha

Neste chão que Deus me deu morada
Fui imigrante, fui tropeiro
Fui frei e índio guerreiro
De farrapo segurei morteiro
E entre maragatos rubros
E chimangos brancos
Fui gaucho.
 
Foi neste chão,
Que vi o verde das pastagens
Se dourar dos arrozais
E entre anus e pardais
Ouvi por quem cantam os cardeais
 
Voei nas vozes dos grandes mestres
 - E fiz poesias.
Ouvi o choro de um peão
Com seu único amigo morto em suas mãos
E o choro baixinho de um cusco
Que foi judiado sem ser redomão
 
Foi aqui que aprendi a ser gaucho
Nesta terra de heróis farroupilhas
Neste chão de hombridade e revolução
Vivi dias de peão e de homem de verdade.
 
                                                           Nepomuceno Alves
                                               Lavras do Sul, 14-setembro-2011

domingo, 11 de setembro de 2011

Assim se faz!

E tudo ia tão bem
Os sonhos iam se fazendo
O amor crescendo e saudade inexistia
Tão pouco chorar fazia
Apenas dava alegria
Que seu sorriso trazia
 
Não sentia frio ou calor
Na impaciência somente o ardor
Sem saber se amor
Ou se apenas agonia
 
Imaginava as luzes sombrias
Sem querer sombras no meu caminho
Aprendi a andar sozinho
Mas não sei caminhar
 
Imaginei o amor
Que só me tinha mostrado dor
Mas imaginar é pouco
Quando existe o tempo para apagar as lembranças
 
De sonho em sonho, vivi.
Mas do pesadelo encontrei o caminho
Caminho que dava medo
Por não haver carinho
 
Rompi barreiras de medo
Rompi sonhos de estradas longas
Esqueci as andanças passadas
E até pra traz deixei a milonga
 
Passou tempos de agonia
Tempos de felicidade
E hoje na escuma fria
Encaro a realidade
 
Não sou mais estradeiro
Nem errante
Nem boêmio.
Sou um amante eterno
Dos seus olhos
E do silencio!
 
                                                           Nepomuceno Alves
                                               Lavras do Sul, 11-setembro-2011

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Vivamos à luz sombria

Vivamos! Veja a palidez sob a luz
Veja o que o céu reproduz
Do encanto que em teu seio palpita
E do sonho que não me deixas acordar
 
Veja a luz sombria dos meus olhos
Mirando sonhos nos olhares celestes
Que por traz de tuas vestes
Cobre os desejos inefáveis
 
E a sombra do teu colo
Faz de mim um tolo
Que por ti, amando,
Sonha com teus lábios
 
Diga, minha donzela,
Quem mais te amará como eu?
Sabes que tenho por ti desejo
Desejo-te mais que o céu
 
E a morte que cerca a vida
Não leva o sonho de um poeta
Que não vive de seus poemas
Mas dá vida em linhas tortas
 
Te desejo. Não nego
Tu tens o meu coração
Que não quero de volta
Deixo-o em tuas mãos
 
                                               Nepomuceno Alves
                                   Lavras do Sul, 24-agosto-2011

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Os passos que dei até aqui

Fugi do sonho que passava à minha frente
Revi os pesadelos que me atordoavam
Senti o gosto amargo da tristeza em meu peito
Vi as lagrimas que em meu rosto rolavam

Subi ao monte mais alto
E de lá gritei seu nome
Como um ladrão infame
Que roubou meu coração

 Fui até o fim do mundo
Sem saber onde terminava a solidão
Fiz dos sonhos um clarão
Que não mostrava o fim do túnel

Cheguei mais longe do que deveria
Com a certeza que um dia chegaria

Passei por lugares desconhecidos
Apenas pra chegar perto dos seus olhos
E vi corações partidos
Mas segui atrás do meu sonho

Chorei a magoa da dor
De não saber o que é o amor
E fiz do sonho o pesadelo
Fugi chorando e com medo

                                                           Nepomuceno Alves
                                                           Lavras, 16-ago-11

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Por apenas olhar

Pedes-me que retorne,
Oh linda donzela.
E feliz voltarei a seus braços,
Para feliz viver em seus abraços.

Duvidas terei de milhares,
Mas seus beijos em meus lábios,
Me conduzirá por seus andares
E feliz viverei sem ressábios.

Serei sempre teu amante
Em morte ou em vida
Mesmo vivendo errante,
Por ti meu coração palpita.

Doces, e inocentes, rimas aqui escrevo,
Pois és tu oh linda donzela,
 Inspiração que certeza me da,
Que dentre todas és tu a mais bela.

Simples versos me servem de consolo
Simples pensamentos causam-me choro
Por pensar em ti me desespero
Pois a vida que curta é,
Tira-nos rapidamente o esmero.

E pra mais bela dentre todas
Guardo um amor descomunal
Capaz de viver sem vida,
E sem mesmo ter forças, renascer.

És a inspiração do meu dia
Luz que acende minha manhã
Contigo descobri a paixão doentia
Que do futuro só conhecia o amanhã.

Fizeste, com apenas um olhar,
Meu coração por ti se apaixonar.
E com apenas um sorriso
Fazer do meu dia, o dia mais lindo.

Sem palavras ficam meus lábios,
Quando perto estou de ti.
Sem coragem de falar
Por certo que me escondi,

Que por medo ou vaidade
Tive medo da verdade
E receio de te revelar
Este tão grande amar.

                                                           Nepomuceno Alves
                                                                  

Olhe!

Olhe para o céu, minha querida
Veja a luz que brilha
Veja o vulta de minha partida
Olhe por quem cantam os pássaros

Preste atenção querida
Por mais que estejas resolvida
Sempre tem o passado para lembrar
Que o futuro sempre pode mudar

Veja meus olhos
Já não existe neles brilho
Já se escasseou as lagrimas
E tudo passou, sem avisar

Voe sem mim, querida andorinha
Não tenho seu caminho na minha estrada
Nem posso ter a vida desgarrada
Já não tenho tempo

Acabaram-se os dias
E o que dói é a lembrança
Que do nada vira fumaça
Porque não sabe o que é sofrer

Se foram os versos
Já não há mais poeta
Ficou apenas a sombra de sonho
Ficou o desejo do futuro

 A vez primeira que fitei
Jamais imaginei
Que um simples sorriso
Me traria o mundo

Agora, querida,
Saiba que a partida, não tarda a chegar
Nem vai apagar
O passado que insisto em lembrar.
                       
                                                           Nepomuceno Alves
                                                           Lavras, 15-agosto-2011

sábado, 13 de agosto de 2011

Perdoa

Perdoa meus olhos, prenda minha
Perdoa a ilusão do meu olhar
Foram lúdicos meus sonhos
Me faltou coragem de acordar

Perdoa as noites, prenda minha
Que me trazem teu sorriso
Perdoa quando sonhos contigo
E não peça pra deixar de sonhar

Se acaso este sonho, prenda minha
For escasso de realidade
Não quero mais a verdade
Se ainda posso sonhar

Se os dias se tornam madrugadas
E no escuro silente
Soar o choro estridente
São minhas lagrimas a rolar

Perdoa o sol, prenda minha
Que lembra o brilho do seu olhar
Perdoa a cheia lua, minha querida
Quando de ti me faz recordar
No brilho do seu luar

Perdoa o silencio dos mates
Que me obrigam a fazer versos
Saiba que meus sonhos complexos
São de, infinitamente, te amar!

                                                           Nepomuceno Alves
                                               Lavras, 13-agosto-2011

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Retorna

Retorna, traga-me os seus sorrisos
Volte com seu amor pra me aquecer
E não me faça implorar por seu querer
Pois sabes que são teus meus sentimentos

Esta longa espera me faz mal
Faz com que se perca a poesia
Da nossa canção de amor
E nasce em mim apenas dor

Volte com a primavera
Para florir nossa vida

Não consigo viver sem este amor
Sou um ébrio na estrada
Uma mancha caminhante

Como um céu sem o brilho das estrelas
Como um mundo sem o perfume das flores
Como o sol sem a lua
Com a musica sem melodia

Eu te espero dia e noite
Porque ainda vive uma esperança
De viver a minha vida
Ao teu lado minha menina

E corro contra o mar
Para sentir a brisa que me faz recordar
Teus lábios e caricias

Teu amor me fez viver
Não ouse pedir pra esquecer
Pois isso apenas me faz lembrar
Que tudo que sei é te amar!

                                              Nepomuceno Alves
                                   Livramento, 22-jul-11

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Amor?

Qual a verdade do amor?
Nem falando como homens ou anjos
Nem sequer com flores e arranjos
Nada podemos saber de amor

Você pode ver o que o amor faz?
            - Você não vê!
O amor me fez feliz
Mas também me fez chorar

O  amor é mau.
            -De um jeito bom-
Sem ser rude,
            -Machuca mais que feitor-
Porque este é o amor

Comigo não sei,
Será que realmente amei?

Versos com amor
Exprimem, talvez, apenas dor
Porque se assim não for
Não é este o amor!

                                                           Nepomuceno Alves
                                               Livramento, 26-jul-11

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Começo do fim!

O fim não agrada como o começo. Não é?
Posso sentir o toque de sua mão em meu rosto
Mas sei que este é o fim
Tornou-se pra mim um desgosto

Talvez ao ver a porta abrindo
Verei você sorrindo
Sem querer ir embora

Sorrir ou chorar,
           Não importa!
Importa o que se sente no coração
E não por ventura a ilusão
Que amargura o sentimento

Sorria querida!
Tome o controle e voe
A última lua já nasceu
E aquilo que era claro escureceu

Um vento leve lembra a primavera
E as flores rebrotam
Mas você viu o céu azul?

Voe como um pássaro
Um pássaro que foge das geadas
E encontra a primavera

Sobra aqui a lembrança do inicio
Que algum dia propício
Fará lembrar que existiu
Alguém que partiu
Sem saber se quem ficou
                        Sorriu!
                                              
                                                           Nepomuceno Alves
                                               Livramento, 25-jul-11

terça-feira, 26 de julho de 2011

Desventuras

Eu vou embora sozinho
E o canto do passarinho
Mostrar-me-á o caminho
De onde encontrarei carinho

Você não quis acreditar
Mas eu era apenas um cavaleiro
Não olhava das janelas
Mirava aquilo que ninguém mais vê

Vi as noites vivarem dias
E os dias, vivi nas noites
Escuras com uma clareza divinal
Mas com um breu infernal

Animei-me com as flores da primavera
E não vi os frutos do verão
E nem sei quais as frases que bastam
Nem as que causam ilusão

Perdi o medo
-Senti receio
E mesmo assim sigo como um louco

Ninguém viu o segredo da vida
Que não tem felicidade aquele que ama
Apenas chora sozinho
No mesmo lugar

E sonha,
E morre,
E nada faz,
-No mesmo lugar!

                                               Nepomuceno Alves
                                   Livramento, 26-jul-11

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ilusão

Saia do meu pensamento,
Não quero que me mostre o sol
Eu sei onde bate meu coração
Sei que tudo é ilusão

Não esqueço que a felicidade se foi
      -E daí?-
Prefiro os sonhos da ilusão,
Afligem menos o coração

E daí que o céu escureça?
Não foi no escuro que tudo foi criado?

Mas sinto que meus dias se findam
Na nostalgia da solidão
Que mesmo sem querer
Me mata na ilusão

-Mas que ilusão?
Ilusão é o sonho que alma não concretiza
É a vida que se quer sem se ter
É o luar sem saber
Se o sol ainda vai nascer

- Mas e daí?-

Tudo isso serve pra que?
Pra fazer de um vivente a imagem da solidão
Ou para dizer que nada passa de ilusão?

                                               Nepomuceno Alves
                                   Livramento, 25-jul-11

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Hoje chorei,
Pela primeira vez aqui
  -Chorei!-
Sem saber o motivo das lagrimas
Revirei sonhos e passados que não voltam
Beijos e lábios que me tocam
Num sonho de verão
Sem o sol que queima ou a luz que aflige
Sem a lua cheia ou a beleza da esfinge
Chorei, e admito que chorei
Não sou fraco por isso
Ao contrário
Minhas lagrimas rolam e me mostram
Que bonito não é chorar
Mas sim amar
Sem saber o por quê,
Chorei sem querer
Sem segurar lagrimas ou dores
Sem imaginar futuros ou amores
Eu chorei as lagrimas de sangue
Talvez sejam lagrimas secas
Por não molhar meu rosto
Nem sequer deixar suposto
Que chorei ou lagrimei
Que sofri ou que me magoei
Hoje meu choro caiu
Sem eu ter como segurar
Sem saber como parar
As lagrimas da minha dor
                                               Nepomuceno Alves
                                   Lavras do Sul, 05-julho-2011

terça-feira, 5 de julho de 2011

A bela da sanga

Hoje, a sanga beijou os pés do meu amor
E ela sorriu como a flor do campo
Como se eu não estivesse ali mirando

Hoje, naquela sanga correu águas
Que os olhos da minha amada fitaram
E os meus, escondidos,
Apenas amaram

Amaram a sanga que corre
Que sem pedir beija seus pés

Amei também os olhos da linda
Que distraída olha a sanga
Que vai e não volta

Lembrei das minhas voltas
E de esporadas perdidas
Para ver aquela que habita
Na beira da sanga mágica
Que beija seus pés e vai embora

Vi a prenda faceira
Que olha as águas touceiras
Que se vão correndo
Como um dia fui
E jamais voltei
Sem ser para ver a linda da sanga

E os seus olhos brilhavam
E os meus sonhos rolavam
Pra que depois d sanga
Seus pés encontrassem minha direção

A sanga só quer correr e encontrar aquele rio
Eu quero que seus pés beijados pelas águas sem fio
Venham até mim
Aquecer aquele frio
Que as andanças da vida me fez sentir

E longe da prenda da sanga
Vi o sonho morrer e voltar
Vi  a vida ressuscitar
E morrer junto do leito pequeno
Junto daqueles pés beijados
Junto com o sonho do andejo

Eu mirava a sanga correndo
E me vinha a vontade sem fim
De ter sempre junto à mim
A prenda dos pés beijados
E na ilusão fui morrendo
E meu baio sofrendo
Castigado da poeira da estrada
Que apertei na saudade e na falta
Para ver a prenda da sanga

E da ilusão acordei
Quando da sanga lembrei
E me vi num estradeiro empoeirado
Sonhando com os doces lábios
Daquela linda dos pés molhados.

                                               Nepomuceno Alves
                        Lavras do Sul, 05-julho-2011

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Faz

Faz-me sonhar
Oh doce sol
Que ilumina meus dias
 
Faz-me chorar
Oh agre lua
Que me lembra o meu amor
 
Tudo sempre impossível
Faz de mim aquilo que não sou
Porque sempre te amarei
Mesmo isto sendo sonho ou pesadelo
 
Porque és tu
Minha donzela inefável
Que alegra meus dias
E faz em meus sonhos
Sorrir por imaginar ter-la comigo
 
Tens o dom de me alegrar
E o semblante que me faz sonhar
E saber que mesmo fraco em minhas forças
Terei seu olhar como fonte que me ilumina
 
                                               Nepomuceno Alves
                                               Lavras, 28-junho-2011

domingo, 26 de junho de 2011

De onde sai o sorriso

És tu a fonte da beleza humana
Que faz sair dos olhos
O brilho que da alma emana
E por pureza sem fim
Há um medo em mim
De infringir tua delicadeza
A qual já disse
Que guarda a pura beleza

E é sem medo de errar
Que falo em amar
Pois talvez não seja eu
O digno de merecê-la
Pois és tu a mais bela das donzelas
Que me arrepia só de fitar
O lindo brilho do seu olhar.

Eternamente serei seu amante
Um qual a diferença dos comuns
Um qual mesmo errante
Errarei destino nenhum

Com seu semblante
Que me causa medo
Sinto a paz sublime
Ainda assim com receio
Sinto a cá em meu peito
Amor que nunca senti.

                                                           Nepomuceno Alves
                                                                                     
Até onde vai a imaginação de um vivente?
Será que sonha com o passado?
Será que o futuro é traçado?
Ou simplesmente serão esquecidos seus poemas?

Hoje tenho pra ti olhares de mundo
Que jamais serão entregues ao vulto
De perder-te sem lutar

Pois o homem que se faz amar
Não lutar apenas por uma mulher
Luta por um olhar que quis mirar
Luta por um sonho que quis sonhar

Não se faz rogado junto pé do estribo
Se faz rude pela força
E amante perante os olhos errantes
Da sua linda querida

                                   Nepomuceno Alves
                                    Lavras, 25-junho-2011
Do que serve dizer ao mundo
Que a centelha de amor que vem de Deus
Torna-se cada dia mais humana
E que o amor que diz o poeta
Seja o reflexo do amor que sinto por ti
E as desrimadas linhas
Escritas por um sonhador
Não servem como reflexo do amor
Pois amor não se escreve

Tento em meus dias
Encontrar a forma certa do amor
Mas só encontro significado em ti
Que serve de inspiração e consolo
Para este pobre sonhador
Que sonha com o amor
Como a semente com a terra

Mas os frutos do meu amor
Não posso te entregar
Pois entrego meu destino à ti
Que será para mim o norte
O sul
Talvez a morte
Talvez o céu azul

Mas nesse céu
Não há espaço para minha dor
Pois o universo infinito
Se torna o menor já visto
Perto do tamanho do meu amor

                                               Nepomuceno Alves

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A flor do meu amanhecer

São só pra ti meus olhares
E de ninguem mais meu coração
É só teu meu amor
E só de ti me vem inspiração


Meu receio é te perder
E meu medo maior é não te ver
Sois pra mim a mais bela
Dentre todas aquelas
Que um dia fitaram meus olhos


E nunca mais quero perder-te
Pois tem contigo meu coração
És tu a luz da escuridão
Que entre sombras ilumina o peito meu



Mesmo sabendo que é teu

Meu coração se desespera
Ao ver que em ti esmera
Toda a beleza do amanhecer


                                                                "Você é meu raio de sol. Não me deixe só aqui na escuridão das minhas magoas"
                                                                 Nepomuceno Alves
                                                                  Lavras, 08-junho-2011

domingo, 5 de junho de 2011

Impossiveis

Tenho uma história
Que com muitas se parece
De um amor que cresce
No silêncio de uma prece

Um amor se forma
Com a dor da incerteza
Se viverá
Ou com a dura duvida
Se morrerá

Olhares se trocam
E se formam renovados
Com a dor da distância
De alguns simples passos

São olhares apaixonados
De uma paixão impossível

Ele, não pode olhá-la com olhos da carne
Ela, não sabe o que fazer

E assim se enamoram
Pouco a pouco
Sem a garantia do futuro
Nem a certeza do muito amar

Ele escreve versos
Que com gosto entregaria
A sua amada guria
Que ele não pode amar

Ela canta versos
Que à ele são oferecidos
Sem ele saber
Que dela vem o amor arrependido

Amam-se assim os jovens
Que jamais novamente amarão
Por saber que este certo amor
Jamais lhe abandonará o coração

E o sonhos seus de um dia viver
Param como estacas
Num futuro que nada resta
A não ser morrer
                                   Nepomuceno Alves
                        Lavras do Sul, 05-junho-2011

domingo, 29 de maio de 2011

Assim se faz a vida

Oh vida! Minha vida
Que hoje surge como navios em guerra
De um sonho acabado
E um sino anunciado
De um povo sem esperança

Oh querida! Minha querida
Supere seu amor como uma rosa
Que supera as abelhas
Que lhe roubam mel

Oh lua! Minha lua
Espere que um dia o sol volte
Trazendo o seu brilho

Oh dor! Minha dor
Voe para longe com os pássaros
Viva sua vida sem mim
Porque eu não sei viver sem você

Oh linda! Minha linda
Viva seu amor radiante
Sem temer o futuro ou o passado
Viva as poesias que o povo canta
Sem fazer delas sua vida

Oh morte! Minha morte
Seja doce consigo mesma
E agre comigo
Que por não saber viver
Mereço seu castigo
                       
                                                           Nepomuceno Alves
                                                Lavras do Sul, 29-maio-2011

quinta-feira, 31 de março de 2011

Do navio à senzala


Vou contar-lhes uma história
De um amor poliango
De um sonho trazido
No fundo de um navio
Onde um amor surgiu
Em meio a dores e chibatas

Amor correspondido
De um negrinho franzino
Pela negra donzela rainha
De uma província vizinha
De onde foram arrancados

E a negrinha também gostou
Do negrinho franzininho
A quem apelidou de engraçadinho
Por ser o mais feio do navio

Desembarcados em outra terra
Marcados como bois importados
Trazia o negrinho no peito
Uma alegria e um ardor
Por ser aquele amor
Tão correspondido no barco

E separados tão logo
Foram levados a longínquos lares
De gente desconhecida
E de santos em altares

O negrinho pra senzala foi levado
E como um potro recém domado
Foi tirado de seus direitos
De liberdade e opiniões

E apanhava sem porque saber
Como um corcel indomado
Porém o negrinho ressabiado
Sabia o que fazer
Mesmo assim sem opções ter
Apanhava noite e dia

Mas a dor nem castigava
Pois nos olhos ele levava
A imagem meiga da sua rainha
Que tão breve encontrara
E tão breve perderia



E apanhava o negrinho no troco
Quando sem saber por quê
Foi chamado a casa grande
Para buscar tão distante
A filha do seu sinhô

Recebeu uma só regra para cumprir
Não olhar nem sequer sorrir
Para a filha do sinhô
Ou para a escava que vinha junto
Para a “pobre” sinhazinha
Sozinha não viajar

Foi pela estrada
Sozinho a pensar
 -Que diacho vou falar
Se nem conheço a tal escrava
Nem sequer essa sinhá desgraçada
Que me fez sair da senzala

E assim seguiu caminho
Sempre lembrando a regra
De nem sequer a cabeça erguer
Nem um lábio mexer
Para a tal sinhá e sua escrava

Quão grande surpresa teria
Ao ver que acompanhava a donzela sinhá
Sua escrava rainha
E nem um breve sorriso
Ou um pequeno esboço tímido
Poderia ele soltar

Levou as duas pra fazenda
Alegre e temeroso
Que faço eu- pensou sozinho-
Se tão perto da minha amada
Nem ao menos posso tocá-la

E a negrinha sorriu
Quando o negro franzino
De nervos e risos finos
Mal cabia em alegria
Por seu amor reencontrar

A negrinha foi pra casa grande
E negro pra senzala voltou
E de noite apanhou
Por demorar pela estrada

Mas como seria rápido?
Mal se agüenta em si

E o negrinho apanhava
E pela janela da casa
A negrinha deixava
Uma lagrima rolar

Passou o tempo
E sempre lá estava
A negrinha molhada
De uma triste lagrima
Na janela a rolar

Sequer uma palavra
Os dois trocavam
Apenas olhares marcados
Com a marca da escravidão

E com o tempo
O sinhô da casa grande
Virou os olhos pra negrinha
Com pensamentos obscenos
Levou a negrinha pra cama

Foi a primeira vez da mucama
Que guardava na magia de um sonho
O tal momento ao seu amor

Foi também do negrinho
A maior dor
Que pela primeira vez não veria
Sua amada rainha
Na janela a lhe mirar

Custou mas sorriu de novo
A ver na madruga clara
Sua negrinha machucada
E em lagrimas molhada
Por ser uma escrava
Que nada podia fazer

O negrinho em raiva
Jurou que ainda matava
Aquele maldito sinhô
Que do seu amor abusou
E o seu sonho massacrou



Mas a negrinha falava
Que de nada servira
Pois outro sinhô viria
E poderia ser pior

Mas o negrinho em raiva
Mal sequer ouvia e escrava
Que pela primeira vez lhe falara

E negrinha dizia
Deixa que assim ocorra
Meu coração é teu
Acaso queres que eu morra
Se matar o sinhô
Irás junto pra o caixão

A essas palavras
Com espanto o negrinho pensou
 -É maior a dor de amor
Do que a dor da chibata
Ao menos a chibata vai e volta
E essa dor que parece traição
Fica cravada no meu coração-.

Voltando a negrinha pra casa
Deixou o negrinho franzino
De apelido engraçadinho
Pensativo na senzala

Ainda com grande raiva
O negrinho se acalmou
E de leve um suspiro deixou
Em uma triste manhã
De uma noite mal dormida

Mas ainda com raiva
No amanhecer do dia
De sorte o negrinho se erguia
E atacava com uma ira
O senhor que noite antes
Abusava de sua menina

Mas o negrinho era franzino
E ainda por cima mal dormido
Foi dominado pelo sinhô

E esse ainda com mais raiva
Mandou o negro pra senzala
E nem pão nem água
Ao pobrezinho servia
Caindo uma noite escura
De rancor a amargura
Levaram o negrinho pro tronco

Pensou sozinho de novo
É menor a dor da chibata
Do que desse amor que me mata
Por dentro de tanto sofrer

Mas o negrinho era fraquinho
E apanhava noite e dia
E fraco nada conseguiria
Agüentar da ira do sinhô

E dessa vez foi mais forte
Cada laço de chibatada
E em gritos horríveis
Ficava o negrinho no troco
A chorar não por dor
A eram lagrimas de um amor
Tão forte e tão perdido

E a negrinha chorava
Chorava como criança
Eram lagrimas de sangue
Lagrimas de quando morre a esperança

E o negro no tronco continuava apanhando
Até que o sinhô maldito
Viu a negrinha na janela
E querendo seu corpo
Obrigou a negrinha a deitar

E foi ainda mais forte a dor do negro
Que de tanto apanhar
Foi os olhos fechando
E neles a imagem do amor
Com um maldito sinhô a beijando

E o negrinho foi caindo
Na poça do próprio sangue
E no coração sentindo
Uma dor irrelevante



E o negro morreu no tronco
E a negrinha mais triste ainda
De dor também morria
Na cama do maldito sinhô

                                   Nepomuceno Alves
                        Lavras do Sul, 16-março-2011